quarta-feira, 31 de março de 2010

Viver é cultivar cegueiras estratégicas

Do romance "Não tenhas medo do escuro" escrito por um óptimo professor do Dep. de Letras da UBI - Gabriel Magalhães:

"gostava de saber porque é que a minha vida é um absurdo. Mas não sei. É como se houvesse cortinados nos meus olhos: cortinados, reposteiros. Não consigo correr esses cortinados. Não consigo ver: ver e entender. Como acontece com quase toda a gente, os meus olhos abertos na realidade estão fechados. As pessoas põem, põem sem dar por isso, uma venda nos olhos. Eu também fiz isso. Viver é cultivar cegueiras estratégicas" (pág. 99, 100).

sábado, 20 de março de 2010

Todo o homem é uma ilha

    Não sou uma fã incondicional da obra de Saramago (daquela que conheço), mas reconheço-lhe algumas qualidades... As alegorias que inclui nas narrativas, os factos extraordinários e insólitos protagonizados pelas suas personagens fazem-nos pensar no sentido que o autor lhe pretende atribuir.

    Tudo isto vem a propósito d' "O conto da ilha desconhecida"...  A personagem principal pede ao rei um barco para poder procurar/encontrar a ilha desconhecida e diz: "quero encontrar a ilha desconhecida, quero saber quem sou eu quando nela estiver".
Esta personagem anónima pretende conhecer-se, andava à procura de si próprio porque "todo o homem é uma ilha".  

   Quanto mais observo as pessoas, mais me convenço que somos uma ilha porque, apesar de tudo, estamos sós: sós nas decisões, nas emoções, nas relações.
    Sim, os outros estão connosco, interagem connosco, condicionam-nos, libertam-nos..., mas cabe a cada um de nós decidir a forma como vamos viver a nossa vida.
    Aquilo que mostramos aos outros é apenas uma pequena parte do nosso ser: há aspectos que permanecem cá dentro muito resguardados, ocultos até de nós próprios.
     Para nos conhecermos melhor (sei-o agora) temos que nos envolver, que agir, sentir; pois, é testando as nossas capacidades e os nossos limites que conseguimos conhecer-nos verdadeiramente. Não haverá conhecimento se não houver emoção, seja ela de que género for.
    Mas nem para esta insólita personagem, essa ilha significa vivermos sós!!! Ele partiu à sua procura levando consigo uma mulher que, mal o viu, soube que queria acompanhá-lo, sem questionar o seu sonho.
    Sabem, reflectindo sobre tudo isto, considero que a nossa grande procura é a do amor, a de encontramos alguém que seja a outra parte de nós.

terça-feira, 16 de março de 2010

Divagações

Há tantas coisas que gostaria de expressar neste blogue, mas há dias que ando às voltas com o  texto, contudo, apago-o sempre e volto ao início.
 É que há levas de pensamentos e sensações que são difíceis de expressar: porque são complexos e abundantes, porque são muito tolos, ou porque são tão íntimos que é difícil pô-los à luz do dia ainda que sob uma pequena capa.
Afinal, 40 anos de vida dão-nos algo em que pensar, nem que seja naquilo que ficou por fazer, ou no tempo que perdemos com coisas sem importância. 
Garanto-vos: é uma idade lixada! Uma idade de balanços, de avaliação, de continuidades, de rupturas... Bom, pelo menos para mim. Mas eu não sou um grande exemplo porque tudo na minha vida aconteceu tarde: tudo! Por isso, sou capaz de levar uns anos de atraso em relação à maioria das pessoas.
Pasme-se, mas sinto-me bem comigo mesma: apesar dos conflitos que vão cá dentro, mas esses são crónicos. Sei, com segurança, que estou a prolongar a resolução de alguns, apesar de já saber a solução. É que há soluções que nos parecem mais complicadas que os próprios problemas.
Há outros conflitos que permanecem ainda envoltos em neblina: nem utilizando a minha racionalidade consigo defini-los completamente. Isso acontece porque os nossos sentidos e a nossa mente criam fantasias de acordo com as nossas vontades e estas podem não passar de meras ilusões. Confuso? Oh, yes!!! 
  

quinta-feira, 11 de março de 2010

Hoje, alguma coisa interessante surgiu na minha viagem solitária das 5ªs feiras.
Voltava eu enfadada da minha aborrecida vidinha, quando vislumbro, no horizonte, uma bolachinha vermelha, charmosa, a enfeitar e a colorir o entardecer. Tão vermelhinha!
Aquela bolinha de fogo espalhava a sua luz entre as nuvens que assumiam tonalidades de uma beleza extraordinária!
Que saudades eu tinha de ver um pôr-do-sol! E este foi mesmo digno de se ver!
Bate descompassado
o meu pobre coração.

Atoleimado,
salta sem razão.

Tropeça nas pedrinhas da ilusão
confuso, atordoado
sem controlo
ou direcção.